segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Doc.

Insisto na bagagem que trago quando arrisco. Me conheço até, sei que não posso confiar em mim mesma, me traio, me enxergo reagindo de maneira contrária. Se piso no escuro, me faço de forte. Faço de conta que só existe o hoje e me perco inevitavelmente depois disso. Nada pode acontecer a uma mente convicta, até que ela descubra o prazer e queira viver isso outra vez. E me pergunto porque na hora eu esqueço do resto, e o resto vem me assombrar depois, com uma frase na testa "você achou mesmo que isso não seria importante?". Eu achei.


Sem previsão achei que seria fácil como pegar areia nas mãos. Quando com as mãos fechadas, a areia se aquieta, mesmo que se perca uns grãos pelo caminho, a massa em questão fica retida. Mas com as mãos abertas, livre, a areia se vai. Vai com o vento, esse doce traiçoeiro. O vento nasceu pra separar grão por grão e, com você, sobram apenas migalhas de um caminho mal feito.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Depois de ontem

Pode ser que eu queira achar um porto
ancorar meus desejos
parar e apreciar a vista
ou pode ser que eu queira cair por aí
e me amarrar sem nó


Me desamarrar os cadarços da mente
fazer com que eu deite e já queira acordar
fincar pequenas farpas no mar
Pra que ninguém ache e apague
o que eu quiser deixar e,
se eu quiser merecer
me sigo e me levo adiante
mesmo que eu queira apenas bocejar o depois.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Não sei

Quero olhar na cara das pessoas, na cara mesmo, discutir, desenhar uma proposta que me faça ir da idéia ao fascínio. Pontos de vista são coisas perigosas, ameaçam o mais rico argumento e põe em risco sua crença de uma vida inteira. E aí que quando você descobre o outro lado da moeda, você quer revela-lo ao mundo! Botar a boca no trombone, jogar na cara da sociedade e, com o perdão da palavra, ligar o foda-se. Mas ninguém crê em você, no que diz e pensa. Pô, você descobriu coisas, investigou, foi a fundo, moveu montanhas, soube, foi aprendiz de sua própria sabedoria, resultou sua insignificância em algo realmente importante. Mas eles não pensam como você. Simples como dois mais dois, você passa despercebido aos olhos de outrém, e não é levado a sério. Quer subir no mais alto cume e dispersar suas palavras tão escolhidas pra quem quiser ouvir. Quer chegar em quem ainda não passou pelo o que você passou e dizer: Olha, eis aqui um conselho de alguém que sabe o que está por vir, acredite em mim. Entreolhares escuta-se risos, deboches, radicalismo besta e dormência de liberdade. Conselho? Hahaha. Liberdade pra mim, é poder escutar, botar na balança, expandir conhecimento, saber ser flexível sem ser fraco, discutir com firmeza mas sempre disposto a relevar outros argumentos. Ninguém é de fato dono de toda verdade, todo mundo mente, desconhece, e mesmo assim continuam a bater o pé, fazer birra pelo que se acredita. Eu sou assim, todos fazemos birra pra ser entendido. Palavrear o que se quer é descartar uma pequena chance de ir pelo lado da estrada escura que você ainda não conhece. Talvez tenha flocos de nuvens lá, talvez tenha teia de aranha. Discutir um assunto faz com que se sinta vivo, a excitação invade todos os poros, tenha você vencido ou perdido em argumento.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Trocados

Sentir ódio de si mesmo devia ser proibido. Mas e aí, quando começa com aquela graça de sentir frio na barriga por algo que nem sequer vale a pena, lacrimejar os olhos, pulsar o coração, arrepiar a espinha, e sentir tudo isso sabendo que não será recíproco. Desperdício? Não creio. Prefiro me odiar à pensar que estou desperdiçando sentimentos. Tem tanta coisa aqui dentro querendo ser vivida, sentida, mostrada. E somos obrigados a esconder, omitir, disfarçar, transformar, descartar. Descarte de sentimentos dará lugar à nada, uma parte do coração vazia, em branco. Preencher com o que? Com o ódio de si mesmo. Não porque gosta, ama, brilha os olhos e tudo o mais, e sim porque sabe que tudo o que sonha poderia se tornar real, mas não há caminho pra isso. Sabe que enquanto chora, poderia estar sorrindo, enquanto lamenta, poderia estar declarando, e enquanto engasga, poderia estar por aí aos doces suspiros. Sentimento engolido mata, escondido queima, falado decepciona, vivido alivia. Prefiro odiar o que sinto, a forma, intesidade e o porque sinto, prefiro odiar o fato de não conseguir esquecer. Prefiro, do que escancarar e apanhar. O ódio anda de mãos dadas com o amor por um só motivo, amar o que não se pode ter é sentir ódio de você mesmo por amar. Sendo então o amor, o sentimento mais bonito, chego a conclusão de que prefiro sim, ter ódio do que ter o coração vazio.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Alcance das réplicas

Quem é que sabe a seta, o outro corpo, as entranhas, se entrelaçando, ouvindo mútuos sentimentos à toa. Pra que? Pra quem? Pra quem sabe a seta. Grãos, poros, todos com gosto de ressaca, pensando já ter sentido, sentindo já ter pensado. Negando o fio da razão, que bate em cada célula, te fazendo lembrar, ressaltar o que já está presente. Mudou? Permaneceu. O que se foi, foi porque foi. Mas do outro vai, e o seu fica. Enrola, entrâncias, perspectivas ao vento. Chove por dentro, molha, enxarca, transborda, é assim que a planta cresce, aprende, cria, vive. Umidos ficamos ao ver que o tempo parece se passar mais em mim do que no real. Sabemos mas preferimos quebrar a chave que leva ao que se passa a vida procurando.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ser, estar, permanecer.

O espaço existente entre o impulso e a ação
Entre a dúvida e a resposta
Entre o piscar e o ver.

O mesmo espaço que habita os mínimos detalhes
Os que passam despercebidos
Os que são levemente recordados
Os que são levados com o tempo
O espaço que se vai daquele que não foi

Ficou.