quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O adeus não precisa ser o fim

Existe um sentimento - que também leva o nome de pecado - que todo ser humano cultiva. Ou pelo menos uma vez na vida, cultivou. Aquilo que acontece quando "ah, ele que venha atrás". Deriva do amor próprio nesses casos, ou da pirraça, ou procede dos tombos levados no passado. À isso, chamamos orgulho. 
O orgulho abre as asas quando você sabe que está com a razão. E teimamos em achar que o tal orgulho, com as tais asas, vistoso que só ele, irá levar o outro a enxergar que a razão em questão é mesmo sua. "ah, ele que venha atrás". 
Depois de uma briga, a porta do carro bate num tom acima do normal, como se o gesto substituísse a voz dizendo que "acabou!". Em seguida, surge por trás, sorrateiro, o tal. E ele te faz esquecer de que o outro, que recebeu a batida da porta, também o sente e também espera que você vá atras. O outro também acha que a razão está com ele. Ninguém quer dar o braço a torcer. Mas não há razão para não ser flexível. Não há razão para adeus. Não há posse de razão. O orgulho pode levar ao fim, e o fim pode levar ao arrependimento. Então, se alguém abre um sorriso no qual revela uma brecha no meio do caminho, mesmo que posterior a uma batida digna de porta, um sorriso acusando uma trégua, sussurrando um "vamos resolver isto de uma vez", aí a vontade de permanecer junto pode ser impulsionada e todas as aparas podem ser discutidas. O orgulho deixado de lado, o não precisar ir atrás, nem esperar que venham, pode te levar as nuvens, poupando energia de bate-portas e noites mal dormidas esperando um alô do outro lado da linha. Aquela demonstração gratuita de adeus, dado ao sair do carro, pode te fazer temer que o adeus seja verdadeiro, e te mostrar que você poderia sair de braços dados com a razão, mas logo a frente poderia esbarrar direto no arrependimento. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

De se pensar

O ser humano foi condicionado a pensar de forma radical: muito temos que fazer pra merecer ser feliz.
Estamos acostumados as coisas não serem exatamente do jeito que queremos e planejamos. Com tudo na vida. Brigamos pra ser feliz, o outro discorda das suas opiniões, quer mudar seu jeito, seu pensamento, suas escolhas, e nós, pra fazer jus ao que nos é importante, batemos o pé e fazemos o mesmo, tentamos mudar a cabeça alheia. Eis que, quando acontece de alguém esbarrar sua vida, alguém que não queira muda-lo, que gosta de você do jeito que é, mesmo turrão e cabeça dura. Alguém que dê risada quando vocês discordam de qualquer coisa aleatória e alguém que goste das mesmas coisas que você... o que acontece? as pessoas se assustam. Brigou a vida toda pra tentar fazer com que pensassem como você, que tivesse o mesmo gosto, que valorizassem algumas coisas simples que aos olhos dos outros era tudo mera besteira, mas pra você fazia toda diferença, tentou fazer com que pessoas que passaram na sua vida enxergassem além do que estava sendo mostrado por você. E quando encontra alguém que você não precisa ter vontade de abrir a boca e enfiar guela abaixo tudo que te importa, pois a pessoa encontrada também tem as mesmas importâncias na vida, você se assusta. Você não estava acostumado a ser feliz de cara. Era exaustivo, dia por dia, escalar a montanha do: se você pensasse como eu seria tudo tão mais fácil. E quando as coisas se tornam mais fáceis, você se assusta. 
Nos acostumamos com o difícil, até com o impossível. Mas ainda não demos conta de que ser feliz também pode dar certo. As pessoas têm medo de ser feliz porque não estão habituadas com o fato de tudo caminhar leve e simplesmente serem felizes. E por isso, deixamos passar pessoas que sempre quisemos e sonhamos e idealizamos, pois quando acontece, o susto e o medo se tornam maiores do que toda aquela vontade de ser feliz com alguém como nós.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Avante!

As pessoas deveriam presentear mais, fora das datas comumente especiais.
Mostrar suas letras. Escrever mais cartões (e cartas!). Compartilhar mais músicas e menos fofocas.
Pentear mais seus próprios cabelos, pintar e cortar as próprias unhas.
Andar a pé. Usar mais o par de tênis do que o par de saltos.
Usar mais os pés no chão do que os pensamentos no "mas e se".
Marcar encontros em cafés e livrarias.
Conhecer desconhecidos.
Suspender o uso de celular e carro algumas vezes. Se possível, muitas vezes.
Deixar de digitar e passar a usar a voz.
Deixar de assistir na tela de alguns centímetros e partir pro ao vivo, 360°.
Ir a shows, praças, parques mesmo que longe de suas casas.
Brindar com taças de verdade ou com copos de plástico, mas ainda assim, brindar.
Lavar o chão. Lavar a alma.
Olhar ao redor e perceber pequenas mudanças. Nos lugares e nas pessoas.
Jogar o lixo no lixo. Jogar limpo com as outras pessoas e com elas mesmas.
Usufruir mais de suas cidades, bairros, casas. Conhecer novas ruas.
Ter mais verdades para mostrar.
Ter menos mentiras para esconder.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobe rios, atravessa oceanos, escala montanhas essa vontade imensa de escrever. É uma vontade forte, como fome ou sono, é quase um empurrão.
É aquela sensação de alívio imediato... como se dissesse à alguém: sai daqui! e a pessoa te obedecesse.
Quero mandar pro alto, ou pros quintos daquele lugar, tudo que vem brotando aqui dentro.
Multiplica-se a cada respirada, das desapercebidas até as mais fundas, suspiros e seguradas de fôlego, todas contam. Brota e rebrota a dúvida. Várias dúvidas. Sinto saudades de um tempo que...
Na verdade só sinto saudades do tempo de criança, sem malícias, sem cobranças. O único "esperar de" era em épocas festivas, natal, aniversário e afins. Esperar por presentes, nada mais.
Hoje em dia espero por atitudes... que talvez não venham. Que, as vezes, de tão mirabolantes (ou não) ficam só no sonho mesmo. E o pior é que muitas dessas atitudes eu espero de mim mesma. Ninguém pode fazer por mim. E eu mesma, que sei disso, não faço. Por isso espero, e espero, e espero. Até cansar. E cansei. E preciso fazer. Mas me saboto e deixo pra amanhã e amanhã vou deixar pra depois.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Longínquos

Em fase de abstinência.
A menina anda se cercando de lonjuras. É só não ir, não ver, não crer.
Mas ainda procura por vestígios que, quando encontrados, fazem o coração sair do lugar e perambular o estômago. Ela quer saber, mas sabe que não deve, não pode, não é inteligente ficar se martirizando ao achar provas do que ela temia, tampouco fingir que não vê, só esperando por uma chance de saber se ele realmente vai bem como parece.
Ela sente alívio as vezes. Passa dias sem sequer lembrar. Mas eis que a menina tem recaídas. Se mantém longe, mas as vezes corre pra bem perto daquele sentimento chamado saudade. Ela sabe que a saudade é de um tempo bom, das coisas boas que passou junto dele. E teima em se esquecer dos motivos que a levaram a manter tamanha distância.
Ritualisticamente ela se leva pra longe dos pensamentos benignos, que trapaceiam o coração e volta os pés no chão. Já passou.