quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Toda pressa que se acalma

Andou sentada. Estendeu a palma das mãos pra prender o vento. Doce querer. Ele não será preso se não se acalmar. Mas se o vento não se apressar, não mais existirá. Só será vento, se correr. Correr em busca do que? O que é que tanto o vento procura... Ser livre? Do que? De si mesmo? Se parado ele não pode ser ele mesmo... Então deve passar a vida toda aos passos largos. Não parando nem no barzinho da esquina, onde a menina bonita se encontra sentada numa mesinha de canto. Passando as mãos pelo cabelo, pra ajeita-los, a fim de sentir-se bonita pro cara do outro lado da rua. E o vento, que passou apressado por ali, ajeitou a gravata, pigarreou e estendeu a palma das mãos aos cabelos da menina. Tirou pra dançar. Deu forma e movimento a cada um dos fios. Deu chance àquele emaranhado de fios recém nascidos que se escondem perto da nuca, de poderem ver a luz do sol que estava a se por. Fez com que chamasse a atenção do rapaz apressado que passava do outro lado da rua. E o vento, depois de convidar o cabelo pra uma dança, correu, apressado, levando junto o perfume da menina. O cheiro de flor dela. De flor quando ri. E quando passou pelo rapaz, fez com que ele fechasse os olhos, pra que o olfato superasse a visão, sentindo como que em câmera lenta, o doce frescor do perfume da menina. E quando abriu os olhos, procurou pelo vento, que trouxera aquela agradável sensação. Mas ele enxergou além do vento, que já vinha se tornando brisa, e além, estava a menina. Jogando os cabelos pra trás, disfarçando o olhar, como se aquele gesto não tivesse intenção. E então, o menino, que estava apressado, parou na esquina, olhou pros dois lados. Não, não estava vindo nenhum carro. Pôde atravessar tranquilamente enquanto olhava de novo, a menina. E ela, já não conseguindo mais alcançar o menino com os olhos, voltara sua atenção a blusa que trazia na bolsa. Já que o sol estava se pondo, e o vento passando mais gelado e com mais pressa. Os dois continuaram a pensar, cada um com o que havia notado. O cheiro de flor, o cabelo ao sol, o menino com pressa, o jeito de andar, o encontro dos olhos. Pensaram tudo, cada detalhe. Só esqueceram de lembrar que se não fosse o vento, mesmo com toda sua pressa, não teria sido a mesma coisa. E que o vento, corre pra unir olhares, pra fazer perceber os corações. Ele faz da pressa dele, caminho pra que as pessoas com as pressas delas, possam, ainda assim, sentirem agradáveis sensações, sentir cheiro de flor quando ri, admirar a dança dos fios dos cabelos de meninas sentadas na esquina. Essa é a razão de sua pressa. Mesmo que ninguém entenda.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A tal

Alice fez que fez, fez que não fez. Parou na esquina, olhou, pensou. Pensou que não deveria parar pra pensar, e seguiu. Literatureou algumas palavras, venceu a exímia atmosfera que, perambulando por ali, fazia esgueirar-se pra fora do peito. Acalentou sorrisos, e então, quando parou de se autocapsular, achou frequencia praquilo que antes insistia em ser desenfreado.